COOPAVEL ALIMENTOS

17 de março de 2009

ARTIGO


O “duzentão” da deduragem

Vai aumentar o “trabalho” dos “aviões” que fazem a entrega de drogas aos riquinhos, pobrinhos e remediados – como é grande essa clientela de malucos, meu!
Agora, além de fazer a entrega da mercadoria em clubes, igrejas, lares, estabelecimentos comerciais, esquinas e portas de colégio, eles também terão a tarefa de vigiar e espionar a concorrência.
Assim, poderão denunciar os bagrinhos do tráfico – aqueles mais afoitos, ingênuos e inexperientes –, para faturar os 200 reais que o Município de Cascavel vai dar a quem dedurar os “transadores” de droga.
Tudo bem, o mais importante é tirar um traficante de circulação, não é? Não é. Traficantes são comerciantes: eles só vendem o que os clientes consomem. Se consumirem verduras, eles venderão verduras.
O mais importante, na verdade, é cuidar da saúde, da renda, da segurança e da qualidade de vida da população.
Se uma pessoa desenvolve a dependência química, ela precisa da droga para que sua vida não seja totalmente infeliz. Claro, vai ficar na verdade mais infeliz e com o tempo a casa cai. O sujeito adoece e até morre, além de dar um incômodo dos diabos.
Mas o dependente é um consumidor fiel. Ele sente alívio nos momentos em que está sob o efeito da droga. E essa promessa de alívio, de alegria, entusiasmo, prazer, satisfação, é tão mais sedutora e cativante quanto mais o mundo for essa desgraça que aí está – injustiças, guerras, doenças alimentadas artificialmente pela indústria de medicamentos, os banqueiros fazendo uma tremenda lambança com as finanças e nós tendo que pagar pela estupidez que eles cometeram.
Eleições financiadas pelos ricos para seu proveito, população engabelada pela conversa fiada dos “líderes”, famílias desestruturadas e comunidades desrespeitadas – não é só a saúva que pode acabar com o Brasil.
A coisa piora, mas o hipnotismo ideológico não deixa os sofredores perceber a realidade, mergulhados na ânsia desesperada de trabalhar como escravos para pagar as dívidas contraídas com o dinheiro de plástico.
Há destruição ambiental, poluição urbana, automóveis cuspidores de veneno, a mortandade de jovens na periferia, a sensação de insegurança e tudo isso é tão ruim quanto o crack para a saúde das crianças e dos idosos. Se eu dedurar essa nojeira toda, eu ganho pelo menos cenzão?
Essa agonia e insegurança toda estimulam milhares a aderir ao time dos que se aliviam das dores da vida com seus narguilés, espelhinhos, cachimbos e outros recursos para a inalação, fumação e aplicação de porcarias mortíferas.
Tirar um traficante de circulação por duzentão – ou duzentinho, como dizem os mais abonados – é uma grossa ilusão. No lugar daquele que dançou entra outro, mais preparado, discreto e “profissa”.
Se não entrar outro, fica uma clientela maior para aquele que dedurou. Por que, vamos e venhamos, quem se dispõe a denunciar traficante em troca de dinheiro quer é fazer negócio e não ajudar a comunidade a se defender de criminosos que encantam, seduzem e arrebentam as famílias.
Mas vamos dar um crédito de confiança ao projeto. Que tal gastar um limite inicial de 200 mil reais, o equivalente à deduragem, captura e respectiva condenação de mil traficantes?
Se ao cabo dessa verba a coisa continuar do mesmo jeito – levando em conta as estatísticas criminais, cada vez melhor preparadas e precisas – que tal mudar o enfoque?
Que tal ir na raiz do problema, resolvendo os graves problemas da sociedade, pois são eles que levam as pessoas a cair do abismo da dependência química?
Seria melhor trocar o duzentão de uma política de recompensa à deduragem, que não terá mais fim, por emprego, renda, segurança social.
Aprimoramento da educação, melhoria na estrutura de saúde, apoio às famílias com doentes químicos, amparo às famílias das vítimas e também dos prisioneiros.
Elas não têm culpa nenhuma por essa desgraça toda e não podem ficar abandonadas, nutrindo rancor por uma sociedade omissa e hipócrita.
Claro que não vou levar “nenhum” por ter dado essa ideia, pois ela não tem brilho nem cheiro para encantar ou seduzir as autoridades. Em suma, não dá barato. Vai exigir investimentos.
Que tal tirá-los do imoral pagamento da dívida trilionária e investir na segurança social? Tá bom vou parar de ter estranhas ideias...

Alceu A. Sperança

é Jornalista e historiador

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