COOPAVEL ALIMENTOS

21 de março de 2010

EIS O BRASIL

Eu o convido a um passeio breve
Pelas entranhas da pátria cor de anil
Conhecendo por dentro esse Brasil
Que a mídia não mostra, nem escreve
Onde a elite é o tsunami, a neve
Não raro, a avalanche dos tornados
Contra operários e aposentados
Dado à fraqueza, nem protestam mais
Ao mesmo tempo, às filas de hospitais
Morrem gestantes e desempregados...
Sem médico, sem leito e sem remédio
O pobre morre a espera de socorro
Enquanto a madame e seu cachorro
Folgam no luxo de mansão e prédio
Aqui em baixo o povo amarga o tédio
De jamais alcançar o que precisa
Pra tapar rombo, - o banqueiro avisa -
Há um pelego estendido no planalto
Olhos vendados pro roubo, pro assalto
Mora em avião, e só em tapete pisa...
Mas que país é esse? Talvez diga
Impressionado ao ver tanta riqueza
E a mesma nunca vir fartar a mesa
De quem pra produzi-la se fadiga
Os grãos são exportados em espiga
A moda bruta os minerais também
Estrangeiros navios que vão e vem
O destino é o Brasil, o predileto
Frágil, desdentado, analfabeto
Aos pés dos trustes a dizer amém...
Eis, aí, o Brasil da falcatrua
Onde o esgoto corre a céu aberto
Quem rouba e mata, é tido por esperto
E o tráfico de droga anda na rua
Não pára aqui, o desmando continua
Soberbo escárnio que até Deus ofende
No país da eleição do compra e vende
A inversão de valores predomina
A escola faz de conta que ensina
E o aluno finge de que aprende...
Eis, o Brasil a proteger quem erra
E a violência no campo deflagrada
Toma escopeta o lugar da enxada
Bandidos travestidos de sem terra
Mãe inocente amamentando a guerra
E a isso chamam de democracia
A invasão, a morte, a covardia
À luz da impunidade vê-se a face
Dum sindicato que já foi de classe
Virar-se em banca de advocacia...
Eis o Brasil, do estupro e da matança
Onde as raposas vêm cantar de galo
Enquanto escorrem tributos pelo ralo
Se anula o velho e explora-se a criança
Conforme o rico toca, o pobre dança
Tendo por maestro o preconceito
Onde o quarto poder decide o pleito
Como lhe interessa, tira, ou ponha
Onde o mínimo, é a máxima vergonha
Tudo prometido e nada feito...
Eis o Brasil, do samba e carnaval
Do futebol a deslumbrar o mundo
Mas da ignorância chega ao fundo
Não sabe o próprio hino Nacional
Onde o bandido mata o policial
E o dinheiro corrompe autoridade
Confesso meu patrício essa vontade
De ser sacrificado aos pés do Juiz
Se alguém encontrar nesse país

Quem possa contestar essa verdade!

Nabuco Portes


* Poesia de Nabuco Portes em seu mais novo livro, Rondas e Pastoreio (ainda em fase de elaboração).


Na foto, Dr. Jesus, Alceu Sperança e o poeta campeiro, Nabuco Portes.

4 comentários:

  1. O Nabuco é um dos muitos poetas e escritores que enriquecem e orgulham Cascavel. Soube, com maestria, descrever o retrato social que vivemos.

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  2. faltou o último verso:
    "se alguém encontrar nesse país
    quem possa contestar essa verdade."

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  3. Se é do Nabuco Portes, dispensa comentários...
    Antonio Carlos dos Santos, Cascavel pr.

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  4. versos de primeira, parabéns ao autor.... velho Nabuco Portes de guerra. sempre na luta por uma justa... Amadeus Oliveira, cascavel Pr.

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