COOPAVEL ALIMENTOS

19 de junho de 2009

EM PRATOS LIMPOS



O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu na última quarta-feira (17) derrubar a exigência do diploma para exercício da profissão de jornalista. Em plenário, por oito votos a um, os ministros atenderam a um recurso protocolado pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Sertesp) e pelo Ministério Público Federal (MPF), que pediam a extinção da obrigatoriedade do diploma.

IMCOMPATÍVEL?

O recurso contestava uma decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), que determinou a obrigatoriedade do diploma. Para o MPF, o decreto-lei 972/69, que estabelecia as regras para exercício da profissão, é incompatível com a Constituição Federal de 1988. Interpretações a parte do texto constitucional, ou seja, levaram 40 anos para ler a Carta Magna e descobrir que era incompatível. Mas o máximo da incompatibilidade foi à comparação que o Ministro Gilmar Mendes resolveu fazer sobre a desobrigatoriedade da exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalista.

MESTRE-CUCA
Acompanhe o raciocínio do 'mestre-cuca" da jurisprudência tupiniquim. Compara a profissão de jornalista a de chefe de cozinha como quem faz panquecas com o futuro e o conhecimento adquirido a duras penas na academia. “Um excelente chefe de cozinha poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima estarmos a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área”, comparou. “O Poder Público não pode restringir, dessa forma, a liberdade profissional no âmbito da culinária. Disso ninguém tem dúvida, o que não afasta a possibilidade do exercício abusivo e antiético dessa profissão, com riscos eventualmente até à saúde e à vida dos consumidores”, acrescentou Mendes, que disse acreditar que a decisão desta quarta não vai contribuir para o fechamento de faculdades de comunicação social.

RÁBULAS
Sendo assim, os delegados calças-curtas tem direito a exercer a profissão. Os rábulas, os práticos e até os curandeiros podem reivindicar direitos iguais. Diploma prá que. O lamentável é que o povo ainda paga o salário desta gente. Me causa inapetência coloquial discorrer sobre cardápio tão indigesto servido pelo Ministro Gilmar Mendes para a categoria dos jornalistas. Não deveria confundir liberdade de expressão com libertinagem de 'impressão' ou liberdade de imprensa com liberdade de empresa. A confusão é evidente. Parece lógico que o hábito não faz o monge, mas como rezar sem o conhecimento sobre as escrituras e a liturgia. Como salvar almas descrentes na justiça dos homens que levam, por exemplo, 40 anos para descobrir que a exigência do diploma, de jornalismo expressa por um decreto-lei de 1969, não era mais exigível desde 1988. E ai pergunta-se como ficam os que cumpriram a lei e foram buscar o "diploma" para exercer a profissão de jornalistas?

JUSTIÇA

O que diz o Ministro cozinheiro para os pobres cidadãos que obedeceram à lei e cansaram suas abundancias durante quatro anos em um banco acadêmico? Como fazer justiça para aqueles que suaram a camisa e quebraram a cuca para obter o almejado diploma de jornalista e que agora "não vele", ou “não precisa”. O Supremo cometeu a suprema trapalhada ao suprimir o canudo. Quanto desrespeito para os que se prepararam tanto. Jornalismo não é atividade para qualquer um. Não é algo que possa ser exercido até mesmo por um magistrado, sem o conhecimento técnico, sociológico, humanista, ético e o compromisso com a sociedade em geral e não com instituições corporativas.



MEU DINHEIRO DE VOLTA

Pode um autodidata ser jornalista, médico, dentista, advogado, Ministro do Supremo? É possível que possa. Conheço alguns no jornalismo e em outras tantas profissões que fazem melhor do que ‘ministrar receitas culinárias’. Mas há que se concordar que quanto mais conhecimento, melhor deve estar formado o profissional e melhor desenpenho e segurança terão no exercício desta profissão. Por isto, já que o diploma não vale mais: quero o meu dinheiro de volta. Devolvam-me o que gastei e me indenizem pelo tempo que perdi estudando sem precisar. Quero o meu dinheiro de volta, com juros e correção já. (Senhores deputados, com vocês a palavra e a esperança de concertarem as injustiças).


EDITORIAL DA GAZETA DO PARANÁ (da lavra do editor Paulo Alexandre)

"CHEFES DE COZINHA" E CARÁTER

Há que diferenciar a liberdade de expressão e as responsabilidades próprias do jornalismo. Alias, o exercício desta profissão, com diversos ícones reconhecidos e citados pelas faculdades atuais formados na “universidade da vida”, com “canudo empírico”, exige um item fundamental que não acompanha ou depende do diploma: caráter
Observe este currículo como exemplo. Paulo Moreira Leite é diretor da sucursal de Brasília da revista Época. “Jornalista” desde os 17 anos, foi correspondente em Paris e em Washington, diretor de redação da Época, redator-chefe da Veja e diretor de redação do Diário de São Paulo. Entre fevereiro de 2007 e janeiro de 2008, foi vice-presidente da Imprensa Oficial do Estado de S. Paulo. Iniciou a carreira no Jornal da Tarde e foi repórter especial do Estado de S. Paulo. No início de 2008, cobriu o início das primárias americanas como enviado especial do IG aos Estados Unidos.
O exemplo acima, caro leitor, serve como base para uma reflexão profunda sobre a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que derrubou a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista. O ministro Gilmar Mendes, magistrada da mais alta respeitabilidade foi ‘infeliz’ ao na comparação que fez durante a justificativa de seu relatório e voto. “Um excelente chefe de cozinha poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima estarmos a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área. O Poder Público não pode restringir, dessa forma, a liberdade profissional no âmbito da culinária. Disso ninguém tem dúvida, o que não afasta a possibilidade do exercício abusivo e antiético dessa profissão, com riscos eventualmente até à saúde e à vida dos consumidores.”
Paulo Moreira Leite, com invejável trajetória no jornalismo, escreveu seu blog, ontem, considerações que resumem o sentimento e pensamento de inúmeros (se não a maioria absoluta) dos profissionais. “Não é por fazer pouco das cozinheiras e chefes que não gosto da comparação do presidente do STF. Já obtive, à mesa, alegrias que a maioria das reportagens não me proporcionaram, em iguarias preparadas por profissionais sem diploma de nenhum tipo — só o da labuta da vida.(...) Não tenho diploma de jornalista. Conquistei o direito de exercer a profissão porque tinha um lugar no mercado de trabalho. Não defendo interesses próprios neste debate. Minha opinião é que, certa ou errada, a exigência de diploma ajudou a modernizar a profissão de jornalista e elevou o padrão cultural das redações. Num país onde o ensino fundamental e médio são aquilo que são, um diploma é uma diferença positiva. Nossos jornais deixam muito a desejar até hoje mas não há dúvida que o Brasil tinha uma imprensa pior antes do diploma”.
Não se questiona a argumentação sobre a inalienável liberdade de expressão. Mas, a qualificação profissional, em qualquer setor que seja, sempre renderá melhores resultados, oferecendo maior confiabilidade ao produto e à empresa. Há que diferenciar a liberdade de expressão e as responsabilidades próprias do jornalismo. Alias, o exercício desta profissão, com diversos ícones reconhecidos e citados pelas faculdades atuais formados na “universidade da vida”, com “canudo empírico”, exige um item fundamental que não acompanha ou depende do diploma: caráter.
O jornalismo, ao contrário do que sugeriu o ministro Gilmar Mendes, tem ação direta sobre a coletividade e, se praticado sem ética e responsabilidade – com ou sem diploma na parede – produz “estragos” e prejuízos difíceis de serem reparados. A qualificação profissional oferecida pelo ensino superior é indiscutivelmente importante. Entretanto, qualificação sem caráter não faz diferença... Bastar ver, por exemplo, quantos médicos, advogados, engenheiros, arquitetos e tantos outros “portadores” de canudo, são criminosos e moralmente desqualificados para exercício de suas profissões, apesar a imponente moldura de seus diplomas.
Em tempo: chefes de cozinha (com ou sem diploma) são profissionais dignos de respeito e podem ser comparados aos jornalistas na seriedade com que tratam as suas funções e responsabilidades.

Um comentário:

  1. É uma sacanagem oficial.
    Em que década ele está vivendo? Na de 80?
    Pessoalmente julgo que nada justifica a decisão diante de tanta gente que preparou-se para tal.
    Parabéns pelo comentário. Assino embaixo.

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